Accountability
- Svitlana Samoylenko
- 10 de nov. de 2016
- 3 min de leitura

Um dos meus recentes projetos de treinamento envolve uma série de workshops, apresentações e coaching em grupo para um banco multinacional de crédito. O CEO solicitou que o tema accountability fosse incluso, um desafio que a nossa equipe aceitou imediatamente e com entusiasmo.
Accountability é fundamental para produtividade, ética e resultados - todo mundo sabe disso. No entanto, como pode ser definida e, mais ainda, ensinada em um workshop?
Quando perguntamos aos participantes (12 executivos) para definir a palavra, a maioria deles amarrou o significado com a responsabilidade. De uma forma ou outra, era sobre ser responsável por suas ações, equipe ou resultados. Ou seja, uma definição vaga e sem sabor. Essa dificuldade em definir a ideia que não tem uma boa tradução para a língua portuguesa é comum, pois mesmo em inglês fica incrivelmente difícil de definir em palavras.
João Cordeiro, especialista brasileiro em accountability, oferece uma explicação mais ambiciosa. Segundo ele, a accountability significa pensar e agir como dono e alcançar resultados excepcionais. É uma virtude moral, que considera os outros e não apenas o 'eu', e desta forma é exatamente o oposto da corrupção.
O interessante é que a accountability - e a sua falta - simplesmente nos rodeia quando começamos a prestar atenção nela.
Exemplos?
Seguem:
Crescendo na Ucrânia ainda parte da URSS, lembro-me da etiqueta da escola. Os uniformes das meninas na escola primária eram: sapato social preto (no máximo marrom escuro, mas nunca qualquer outra cor), meias brancas, vestido azul marinho com um avental branco perfeito e bem passado, blusa branca e cabelo sempre ajeitado em um rabo de cavalo. Os uniformes dos meninos eram: sapato preto social, calça social, um cinto e uma camisa branca.
Poderia sentar-se de forma descuidada ou no chão, colocar os pés sobre a mesa ou correr como um louco com essas roupas? Absolutamente não.
Quando eu passei um ano nos EUA, fiquei chocada de ver que poderia ir para a escola de pijama, mascar chiclete e comer na sala de aula. Também trabalho com alunos nas escolas brasileiras e o uniforme em grande parte é esportivo e confortável. Ah, claro, muito mais "confortável".
Mas o que aprende uma pessoa de 15 anos quando nenhuma demanda é colocada para se sentar certinho e estar bem visto, para ficar acordado, olhar para o professor ou para manter o lugar limpo?
Onde e quando é que vamos começar a entender e aprender a accountability?
Podemos culpar o governo brasileiro pela corrupção, enquanto no nível de pessoas simples, como você e eu, há o "jeitinho" para tudo?
Podemos ficar chateados que os impostos são gastos nem sabemos onde, enquanto todos que podem, escondem os seus rendimentos e tentam evitar pagar totalmente os impostos?
O que você está ensinando para os seus filhos sobre filmes, jogos e música pirata? Será que as vezes você "dá um jeitinho"?
Onde está a sua responsabilidade quando você trabalha em excesso, deixando de cuidar do seu corpo e ficando doente, por sua vez estando ausente das obrigações do serviço e da família?
Quanto mais você vai culpar seus colegas, o mundo, seu "ex" ou os dias chuvosos por não conseguir o resultado desejado?
Vamos mudar o nosso país, o nosso ‘hoje’ e o nosso ‘amanhã’ juntos?

Svitlana Samoylenko - Onboarding & Advising
Psicóloga (Newbold College, Inglaterra), pós-graduada em Psicologia Cognitivo-Comportamental (Reading University, Inglaterra), certificada terapeuta pela Oxford University, Inglaterra, e coach executiva certificada pelo Center for Executive Coaching (EUA). Mestrando curso ‘Aprendizagem e mudanças globais’ pela Linkoping University, Suécia.
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